quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


Lembranças sem futuro.


Ando em minha bicicleta sem saber para onde vou... O futuro é estranho para mim... O que será se eu for até o final dessa estrada?
Nesse pensamento estou mergulhado, não sabendo muito bem o que pensar e agir. Afinal, o que fazemos para continuar andando mesmo com tantas pedras em nossas costas?
Essa não é uma história, não é uma vida... Simplesmente é...

Me lembro de estar agoniado com algo, sentado no sofá olhando para o teto com meus pés descalços tocando o chão frio sem luz, viro minha cabeça em direção a janela com esperança de que algo apareça e diga o que realmente sou. Enquanto olhava para fora, só imaginei que em todas as luzes que via se realmente existiria uma luz para mim ou sou apenas o que irá ver, mas nunca ter, tenho de desvendar o que realmente é.
Com os pensamentos contínuos em minha mente, logo me vejo em outro lugar, como se apenas um flash de luz estivesse passado e me apresenta-se outra realidade, neste momento estou com um grupo de amigos, todos rindo se divertindo e pareço estar em um restaurante, mas como cheguei até aqui?
Tento descobrir como cheguei lá, mas não lembro só me lembro de estar em casa sentado no sofá em uma escuridão que domina. Tento me distrair um pouco desse pensamento e ouço o que eles falam.

-Hahahah, você se lembra é? Não lembrava disso, foi bem engraçado – Um rapaz falava
- Sim, estávamos todos lá. – uma menina se vira para mim – Você também se lembra?

Não entendo do que falavam e não sabia que responder, mas tive medo de perguntar o que seria então balancei a cabeça afirmativamente e continuei a ouvir

- Seria tão legal se pudéssemos voltar a fazer uma viagem como esta algo que valeu apena fazer. Que tal tentarmos novamente? – o mesmo rapaz de rosto desconhecido comentava.

O estranho que dentro de mim algo fala que ele é amigo, mas não consigo identificar seu rosto muito mesmo quem ele realmente é, mas estranhamente não me sinto incomodado nem acuado com eles. Comecei a ter medo, pois quando reparei nos demais eram como sombras, algo que parecia sonho, não conseguia dar forma a nenhum deles ou ao local que estávamos.

Novamente uma luz veio a mim, mas nesse momento me levou a um local que conhecia, era uma praia, estava sentado em uma estrutura de madeira de cor escura, estava já noite, dava para ver estrelas e a lua, senti um calafrio, pois sabia que naquele local acontecerá algo que me feriu, mas não lembrava. Enquanto estava perdido em meus pensamentos senti uma mão me tocar do lado esquerdo com uma leveza, mas com sentimentos, olho para o lado e vejo uma pessoa que não via há anos, alguém que feri...

- Está tudo bem com você? – ela fala baixo e se aproximando de mim
Falo meio sem jeito e assustado – Não sei se está, estou me sentindo estranho... Como se algo estivesse mudando e eu não estou vendo -
- Ei, que tá acontecendo, me conte... Eu estou aqui ao seu lado, não estou? – sorrindo e encostando a cabeça em meu ombro
- Como posso dizer? Eu não sei como vim parar aqui, tudo que me lembro era estar no sofá de minha casa sozinho... O que aconteceu comigo?
- Eu sei o que aconteceu, mas o que é mais importante? Estar aqui comigo ou pensar em coisas que não tem importância? – lentamente ela começa a passar os braços em minhas costas como se quisesse me abraçar
- Eu também sei o que aconteceu, mas o estranho é como cheguei aqui e por que logo você está aqui ao meu lado depois do que fiz com ti?

Neste momento, me lembrei do porque o local era tão marcante para mim, foi aonde nós brigamos. Eu estava furioso por ela ter achado que eu não tinha coragem de assumir o que sentia por ela, de que era realmente ela que queria, mas não conseguia segura-la para mim.

- Sim. Aprendi que mesmo você sendo todo malvado, ciumento, bobo, cabeça oca, você foi à única pessoa com a qual pude ser eu mesma, alguém que mesmo com os maiores problemas nunca me deixou de lado e sempre procurando um meio de estar ao meu lado sem questionar. Você sempre foi um guardião.
- Por que está me falando tudo isso apenas agora? – ficando com uma expressão de surpresa, mas também de raiva
- Não tive a oportunidade, não dei valor a você mesmo estando perto ou longe, por isso hoje estou com ti. – levanta a cabeça, colocando a mão bem me leve no meu rosto e me fazendo olhá-la – Você é muito mais do que poderia pedir...

Um silêncio profundo se abate, não sei o que realmente está acontecendo e não sei o que falar, mas quando criei vontade de falar novamente me vi no restaurante com os amigos, mas estranhamente ela também estava lá, ao meu lado rindo e segurando minha mão.

- Realmente, deveríamos fazer aquela viagem novamente, mas será que mudou muito desde a ultima vez que estivemos lá? – outra pessoa comenta

Nesse estante me dei conta que todos que estavam na mesa eram pessoas que conhecia, mas não que ela se conhecessem, pois sei que suas vozes nunca se encontraram e que realmente não estava em uma realidade humana. Tento achar um meio de sair, pois sabia que não era real.
Após correr sem rumo e sem entendimento me vejo em uma bicicleta, toda prateada e em uma estrada deserta com um sou nascendo atrás de mim, me lembro que foi isso a minha ultima sensação de vento e liberdade. Enquanto pedalava vi uma pequena casa, branca com telhados alaranjados e com duas árvores de cada lado, e resolvo ir até ela.
Chego perto, coloco minha bicicleta próximo a porta, amarro-a com uma corrente que tinha e vou em direção a porta. Enquanto me movia até ela, senti como se tivesse atravessado algo, como fosse uma “barreira”, mas não me deixo preocupar por isso. Abro a porta e vejo que estou na casa que sempre ia dentro de mim. Ela está mobiliada e com várias lembranças, dores, alegrias e amores, havia fotos, instrumentos, desenhos, textos, armaduras, armas e bem no fundo um espelho. Me lembro que nesse espelho era o que me fazia voltar para realidade, mas dessa vez nada acontecia.
Não me importei de não voltar, me sentei e comecei a rever todas as coisas que me haviam passado, desde criança até o exato momento, perdi horas lembrando de tudo e de todos, mas algo me fez olhar para direita aonde tinha uma janela, por ela vi algo que não lembrava... Era lindo, uma lagoa, com o brilho lunar sobre ela, com barulho de vento batendo nas folhas que por sua vez faziam uma musica calma, ao fundo havia montanhas com seus picos brancos devido a neve. Eu sempre amei este local, foi onde eu criei meu canto especial para guardar minhas coisas.
Ando até o lado, sentindo o vento batendo em mim, mas que estranhamente parecia ter uma voz nele, uma voz com tom forte, mas suave e carinhosa. Quanto mais chegava perto do lago mais a voz se tornava mais forte e nítida, eu reconheci que era a garota na qual estava conversando antes, só que ela dizia coisa que não me faziam sentido.

- Por que não consegui ter coragem de estar ao seu lado? Não queria te deixar só e não quero.

Não entendo o que ela queria, não sabia o motivo disso, mas sentia que ela estava perto de mim e com sua mão segurava a minha com carinho e emoção. Tentei responde-la no que falava, mas parecia que nada chegava.

Parei novamente, sentei-me perto da margem do lago e comecei a pensar no que foi tudo isso que aconteceu e por que acabei chegando aqui, foi quando novamente o flash veio me fez ver o que realmente havia acontecido. Me vi deitado no sofá, com os pés descalços no chão e olhando para a janela, o mais estranho é que não estava olhando para janela e sim me vendo. Tomei um susto, comecei a gritar desesperadamente, entendi o por que de tudo, eu havia me matado.
Quando comecei entrar em perdição uma mão tocou em meu ombro e falou em calma

- Sei o que fez, não lhe culpo por isso... mas não queria que tivesse visto o que acabou de ver. Sua vontade de morrer foi grande, por isso quis te dar alegria... mas sei que você não é simples. Você não foi covarde muito menos um fraco, você foi uma das pessoas mais forte com que tive o prazer de conhecer.

Chorando e sentindo a mão em meu ombro mas sem coragem de olhar para trás - Então qual foi a razão disso tudo, de me lembrar coisas e depois me mostrar que não eram verdade?

- Tudo realmente não foi real, mas foi uma forma de que eu tive de mostrar que você sempre foi forte, que sempre agüentou as pancadas não importa como, mas agora eles não precisam mais de você, eles tiveram a oportunidade de estar e viver com ti, mas não o aceitou como realmente era e preferiam viver em mentiras e sofrimento. Você é forte, pois mesmo em momento que lhe dei você não se deixou abater e nem levar com a situação, continuou sendo o que era em vida. Talvez nunca entenda realmente por que se matou, mas já te digo que não foi por medo nem triste, e sim, se libertou dos que nunca realmente quiseram você.

Passo a mão nos olhos cheios de lágrimas, olhando para o sofá aonde estava um ser que fez tudo que dava para estar vivo, mas não sabia o motivo de estar. Um ser que brilhou muito mesmo estando em completa escuridão.

- O que farei agora? Não estou mais vivo e não tenho mais ninguém... – resmungo
- Quem disse que não esta? E quem disse que está só? Lhe disse que agora está livre e agora que irá realmente viver e ver que em todos os momentos com o qual passou nunca esteve só...

Bem devagar a mão começa a me puxar e me virar para ela, apartir daí não se soube mais de nenhuma lembrança ou presença, como se tudo não tivesse existido mas que ao mesmo tempo existe por todo o sempre.



Não posso fazer o preciso, mas faço o que consigo...

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